Fonte: Jornal do Commercio |
A próxima década será marcada por uma virada no planejamento energético do Brasil, que passará a dar mais peso às usinas térmicas com o esgotamento das possibilidades de se construir hidrelétricas de grande porte. A avaliação é do secretário de Planejamento e Desenvolvimento do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura, que abriu, nesta quarta-feira (14), o 5º Seminário Internacional de Energia Nuclear, no Rio de Janeiro.
“É possível que as fontes renováveis percam participação depois de 2030, porque não teremos mais hidrelétricas de grande porte para construir e essa expansão vai ser substituída por gás, carvão e nuclear, que não são renováveis. O Brasil começará a se aproximar mais do resto do mundo, que usa combustíveis fósseis para atender a suas necessidades, inclusive para energia elétrica”, disse Ventura.
Altino afirmou que o Brasil tem uma matriz energética mais limpa porque teve oportunidades e fez investimentos desde a década de 1980, após a crise com o petróleo obrigar o país a repensar a importação do combustível para a produção de energia elétrica. Hoje, cerca de 70% da energia elétrica gerada no Brasil vem das hidrelétricas. O potencial do país permitiria ter uma capacidade de até 260 GW (gigawatts), mas apenas 150 GW devem ser atingidos até 2025-2030. Nesse período, avalia, serão esgotadas as possibilidades de expansão hidrelétrica por questões ambientais e de viabilidade econômica.
“O Brasil tem que buscar outras soluções, como o gás natural e o carvão mineral”, exemplificou, afirmando que o gás só não é mais utilizado no país por falta de oferta, o que acredita que será solucionado com a exploração da camada de pré-sal e o resultado dos leilões para a produção de gás em terra.
A energia nuclear, ao lado dessas duas fontes térmicas, terá um papel mais ativo do que hoje, quando responde por 2,7% da geração nacional. Além da usina de Angra 3, prevista para entrar em operação em 2018, com 1.245 MW (megawatts) de capacidade instalada, mais quatro usinas estão em estudo no planejamento para 2030, que será substituído por outro, que visará a 2050.
“Depois de Fukushima, o mundo reavaliou a questão nuclear. Houve uma interrupção, mas os países retomaram seus programas nucleares. Os Estados Unidos estão construindo cinco novas usinas, e Rússia, China e Coreia do Sul, mais várias. A humanidade não pode deixar de considerar essa fonte de geração de energia no longo e médio prazo. Só houve redução do programa nuclear na Europa Ocidental, onde o baixo crescimento econômico tem gerado um crescimento menor no mercado de energia. Mesmo a Alemanha, que decidiu fechar suas usinas até 2022, continua comprando energia nuclear da França.”
Usinas de fontes renováveis diferentes da hidrelétrica devem continuar ganhando participação na geração nacional de energia elétrica, mas o secretário do Ministério de Minas e Energia defende que “há potencial para a biomassa em São Paulo e para as eólicas no Nordeste, mas elas serão complementares”, e também acredita que a energia solar ganhará competitividade nos próximos anos.