Fonte: Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios|
Startup brasileira inova e cria produto para reparar ossos
Enxerto ósseo feito pela BioRepair pode ser utilizado em animais e humanos para tratamentos odontológicos e ortopédicos
O enxerto ósseo é um material hospitalar utilizado na reparação de defeitos que uma pessoa pode ter em qualquer osso. Muito comuns nos implantes dentários, os enxertos movimentam grandes cifras no mercado brasileiro. E é com a ambição de conquistar uma parte desse setor que duas dentistas cariocas criaram a BioRepair, startup especializada em enxertos ósseos sintéticos.
Neusa Costa e Débora Yassuda se conheceram na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), quando fizeram doutorado juntas em engenharia de materiais. Entre 2008 e 2012, elas desenvolveram uma cerâmica sintética que pode ser utilizada como enxerto ósseo.
Em comparação com outros materiais que existem no mercado, o produto desenvolvido pelas empreendedoras apresentava melhores resultados, pois reparava os ossos de forma mais rápida e desaparecia do organismo após o tratamento.
“Em testes que fizemos com outros enxertos, vimos que eles permanecem no corpo após o tratamento. Não há como afirmarmos que a presença deles resulta em algum problema, mas com o enxerto que criamos, o paciente termina o tratamento com um osso exatamente igual ao que ele tinha antes da lesão”, afirma Débora.
Com o fim do doutorado, as duas dentistas perceberam que tinham um ótimo produto em mãos e decidiram levá-lo ao mercado. Para isso, elas se candidataram à incubadora da UFRJ. “Foi um desafio enorme organizar o projeto. Nós duas temos muito conhecimento técnico, mas sabíamos pouco de empreendedorismo. Fizemos vários cursos para aprender sobre plano de negócios, estudos de mercado e marketing”, diz. Neusa e Débora só foram aceitas na incubadora na segunda tentativa, no fim de 2014, e estão lá desde fevereiro de 2015.
Além dos enxertos para tratamentos odontológicos, o material da startup também pode ser usado em cirurgias ortopédicas de pessoas e animais. Mas, para facilitar o planejamento da empresa, as empreendedoras optaram pela área odontológica.
Como parte do processo de incubação, Neusa e Débora também tiveram que fazer várias pesquisas de mercado para validar a ideia de negócio. Segundo Débora, dados da Associação Brasileira da Indústria Médica, Odontológica e Hospitalar (Abimo), afirmam que foram realizados 2,2 milhões de implantes dentários no Brasil em 2014. Assim, esse mercado movimenta anualmente R$ 1,2 bilhão e tem crescido 5% ao ano. “Nem todos os implantes precisam de enxerto, mas, a partir dos dados da Abimo, nós calculamos que, por ano, o segmento de enxertos movimenta, aproximadamente, R$ 220 milhões”, diz.
A respeito da expectativa que tem em relação ao mercado, Débora cita que, no Brasil, existem mais de 25 mil dentistas aptos para realizar cirurgias com enxertos. “Se cada um deles realizar cinco procedimentos por mês, são 1,5 milhão de cirurgias por ano. Então, acreditamos que existe muito espaço para nós no mercado”, diz.
Desde que se instalaram na incubadora, as dentistas têm trabalhado para garantir a patente do produto e acertar todos os detalhes burocráticos. Até hoje, elas já investiram R$ 50 mil de capital própria na empresa. Elas acreditam que devem entrar no mercado nos próximos dois meses e farão a divulgação do produto por meio de contatos com professores universitários do Rio de Janeiro e envio de amostras para dentistas especializados.
Segundo Débora, o preço dos enxertos no Brasil vai de R$ 100 a R$ 600 para meio grama de material, que é a quantidade necessária para implantar um dente. Os valores variam de acordo com a qualidade e origem do produto — se é nacional ou importado. A dupla prevê que o enxerto da BioRepair deve chegar ao mercado pelo preço de R$ 210 a meio grama.
Atualmente, a empresa utiliza a estrutura da UFRJ para desenvolver o negócio, mas as empreendedoras já têm planos para montar um laboratório próprio. Para isso, elas calculam que será necessário um investimento de R$ 350 mil. “Já conseguimos metade desse valor com alguns investidores, mais ainda estamos à procura”, diz Débora.
A empreendedora afirma ainda que, no total, a BioRepair irá precisar de R$ 900 mil para começar a ter lucro. Além do laboratório, elas calculam que o capital de giro necessário será de R$ 300 mil no primeiro ano e R$ 250 mil no segundo, com retorno financeiro apenas a partir do terceiro ano de operação.