Fonte: Exame |
Empreendedores à frente de negócios emergentes com frequência precisam cortar custos para fechar as contas no azul. Diante disso, muitos restringem os benefícios dos funcionários — ou mesmo demitem parte da equipe.
Para a especialista em gestão Zeynep Ton, professora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), não deveria ser assim. Ela é a autora do livro “The Good Jobs Strategy” (“A estratégia dos bons empregos”, em tradução livre), que é uma espécie de manual a ser seguido por quem quer aumentar as vendas e os lucros sem sacrificar o bem-estar dos funcionários. “Enxugar salários e diminuir benefícios é o jeito mais fácil de cortar custos”, disse Zeynep. “O problema é que isso derruba a produtividade no longo prazo.”
A principal recomendação de Zeynep é que, em vez de tornar a vida do pessoal insuportável, é preciso buscar o que ela chama de “excelência operacional”. Em muitos casos, isso significa manter um negócio bem enxuto.
Um dos exemplos que a autora utiliza é o da companhia aérea americana Southwest, que não oferece serviços de reserva de lugares, alimentação a bordo nem acentos de primeira classe. Mesmo com um nível de serviço espartano, em 2011 a Southwest obteve a melhor avaliação dos clientes num ranking divulgado pelo Departamento de Transportes dos Estados Unidos.
“Com uma gama menor de serviços, a Southwest consegue manter os funcionários focados em assegurar que os voos saiam na hora certa e que a bagagem não seja perdida”, afirma Zeynep. “Isso gera um círculo virtuoso.”
Uma parte importante da estratégia definida por Zeynep é a criação de processos de trabalho bem definidos. Quanto mais detalhes, melhor. Na empresa de serviços de entrega UPS, os entregadores sabem exatamente tudo o que podem e o que não podem fazer durante um dia de trabalho. A clareza no processo dá aos funcionários certa autonomia para tomar decisões que não contrariem a política de entregas da empresa. Quando surge um imprevisto e o cliente não pode receber a encomenda, eles não precisam da autorização de ninguém para mudar a rota de entregas do dia e voltar mais tarde.
“Dar liberdade aos funcionários os faz sentir um pouco donos do negócio”, diz Zeynep. No caso da UPS, esse não é apenas um discurso. Setenta anos antes de sua primeira oferta pública de ações, a empresa já oferecia a motoristas e entregadores a chance de trocar parte do bônus por cotas.
Embora faça todo o sentido, Zeynep reconhece que sua estratégia dos bons empregos encontra resistência. Tome-se o exemplo do Walmart, maior rede varejista do mundo. No livro, Zeynep descreve o Walmart como uma empresa que paga salários baixos e vive tendo problemas trabalhistas na Justiça.
“Há diferentes maneiras de ganhar dinheiro, e uma delas é pagando mal”, afirma Zeynep. “No entanto, quando olhamos para indicadores como faturamento por funcionário ou vendas por metro quadrado, fica claro que o Walmart é menos eficiente do que os concorrentes que optam por uma política de recursos humanos mais amigável.”
Bom para todo mundo
Como fazer uma empresa crescer respeitando o bem-estar dos funcionários, segundo a professora Zeynep Ton, do MIT:
1 – Criar padrões e dar autonomia
Implantar processos bem definidos permite dar aos funcionários certa liberdade para que resolvam pequenos problemas sem consultar seus superiores — o que torna o atendimento ao cliente mais rápido e eficaz.
2 – Permitir certa mobilidade
Um jeito de manter as pessoas motivadas é treiná-las para que ocupem mais de uma função e permitir que troquem de área de vez em quando. Isso as incentiva a propor melhorias que podem trazer mais eficiência.
3 – Manter o foco no essencial
Empresas que mantêm o foco em poucos produtos e serviços oferecem um ambiente propício à especialização dos funcionários. Com o tempo, o desempenho deles tende a melhorar — o que em tese permite avançar na carreira.