Fonte: O Dia |
Um projeto que será inaugurado hoje no Município de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, vai transformar lixo em gás natural. O Aterro Dois Arcos, em funcionamento desde 2008, foi transformado em uma usina de valorização de biogás.
O investimento de R$ 18 milhões é de uma sociedade entre as empresas Osafi, proprietária do Aterro Dois Arcos, e a Ecometano, do grupo MDCPar, voltada para produção de gás natural de fontes renováveis. O empreendimento integra o Programa Rio Capital da Energia, desenvolvido pelo governo estadual para implementar novas tecnologias energéticas.
As 600 toneladas de lixo que serão transformadas em combustível são recolhidas nos municípios de São Pedro da Aldeia, Búzios, Iguaba Grande, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Silva Jardim e Araruama.
Coordenadora do Programa Rio Capital da Energia, Maria Paula Martins explica que o combustível produzido será entregue no gasoduto da CEG-Rio a partir de abril do ano que vem. Enquanto isso, o gás será comprimido e chegará aos consumidores por meio de galões.
“O combustível será misturado com o gás natural já fornecido pela CEG-Rio, de metano puro, e distribuído aos clientes sem custos adicionais”, disse Maria.
O empreendimento inicia com a produção diária de 6 mil metros cúbicos de gás e, em oito anos, esse volume deverá subir para 20 mil metros cúbicos. A estimativa de produção da usina é de 5 milhões de metros cúbicos de biogás purificado por ano.
Gerente de desenvolvimento de negócios da Ecometano e diretor da GNR Dois Arcos Valorização de Biogás, Marcio Schittini explica que o principal benefício da planta industrial — para a comunidade local e o meio ambiente — é que ela garante um aproveitamento adequado do gás gerado no aterro. Além disso, segundo ele, o empreendimento significa uma alternativa ao tratamento do biogás com mais benefícios para a sociedade.
“Estamos recuperando mais de 95% do metano, com alta eficiência e tecnologia, para fazer um produto de alto valor agregado”, acrescenta Schittini.
A decisão pelo novo processo é a vantagem de aproveitar o lixo, o que diminui a quantidade a ser descartada. Além disso, reduz significativamente a quantidade emitida de dióxido de carbono (CO2) e de metano (CH4), gases causadores do efeito estufa.
“A iniciativa é louvável”, comemora o professor da Faculdade de Geologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Cleveland Maximino Jones. Mas ele alerta que, como o custo para a produção desse gás é muito alto, novas tecnologias precisam ser avaliadas. “Enquanto isso, usar o gás em locais próximos é uma boa opção para a população e o meio ambiente”, conclui Cleveland Jones.
Energia elétrica que vem do esgoto e ondas do mar
Outras formas renováveis — ou seja, com pouco impacto ambiental — de geração de energia estão sendo estudadas e implementadas no Rio.
A criação de energia elétrica a partir do uso do lodo de esgoto urbano, por exemplo, está sendo viabilizada por meio de um projeto implantado na Estação de Tratamento da Pavuna (ETE Pavuna). O Projeto Lodo foi coordenado pela EDF Norte Fluminense, em parceria com a Cedae, Uerj, P2IT Engenharia e Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedeis).
Inicialmente, o lodo foi coletado em diversas estações de tratamento (ETEs) da Pavuna, Alegria e Penha, para promoção de pesquisas que determinaram onde estava o lodo de melhor qualidade para a geração de energia elétrica.
Enquanto isso, a estatal Furnas está investindo R$ 9 milhões em projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para produzir eletricidade a partir das ondas do mar. Desenvolvido em parceria com a Coppe-UFRJ e a Seahorse Wave Energy, empresa da Incubadora da Coppe, o projeto prevê a instalação de um conversor offshore (em alto mar), em escala real, no litoral do Município do Rio.
O conversor será instalado a 100 metros da costa, atrás da Ilha Rasa, e terá capacidade de gerar cerca de 50 kw/h, energia suficiente para abastecer 100 residências (400 pessoas) fora do horário de pico.
O conceito consiste na movimentação de um flutuador, guiado por uma coluna central, com fundação no leito marinho. Esse flutuador, medindo 11 metros de altura e 4,5 metros de diâmetro, é movimentado verticalmente pelas ondas. A geração de eletricidade ocorre pelo movimento vertical do flutuador.
Bactérias geram combustível
Segundo dados do site da organização Eco Desenvolvimento, é desperdiçada anualmente uma quantidade de energia sustentável que pode abastecer aproximadamente 18 milhões de residências.
Para amenizar essa situação, usinas como no aterro Dois Arcos recolhem os resíduos e transformam em gás natural que pode ser usado na cozinha de casa. Esse processo é feito a partir das bactérias que se encontram nos lixões. Ao se proliferarem ocorre a fermentação e a liberação do biogás.
Assim, há dutos nos aterros sanitários que captam os gases liberados. Posteriormente, esses gases passam por processos de limpeza e desumidificação. Em seguida, são pressurizados e queimados em flares, onde o metano (CH4) é transformado em gás carbônico (CO2), que possui um potencial de aquecimento global cerca de 20 vezes menor.
É um recurso energético renovável, pois a degradação de matéria orgânica é praticamente inesgotável. Assim, gera energia ecologicamente correta, diminuindo o uso de recursos fósseis.