Fonte: O Globo |
Em meio a um processo mundial de inovação, a indústria brasileira enfrenta dificuldades para adotar novas tecnologias, o que contribui para agravar a crise no setor. Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que os empresários têm pouca disposição para comprar e usar novas tecnologias num horizonte de dez anos.
O levantamento mostra que, no setor de energias renováveis, de um total de 64 novas tecnologias listadas, em apenas dois casos o índice chega a 70%, o que indica uma boa perspectiva de investimento. Em relação a outras 30 novas tecnologias pesquisadas, a disposição de investir é de apenas 10%.
No setor de vestuário, com presença forte de micro e pequenas empresas, também é baixa a intenção de adotar novos equipamentos. A exceção é o segmento automotivo, que, por sua natureza, demanda mais pesquisa. Para 27 de um total de 37 tecnologias emergentes listadas, varia de 51% a 70% o total de empresários que pretendem investir.
— Há uma heterogeneidade grande no parque fabril brasileiro. Temos máquinas antigas, com até dez anos de uso a mais do que os equipamentos na Europa — afirmou Marcelo Pio, especialista de Desenvolvimento Industrial, da Unidade de Estudos e Prospectiva (Uniepro) da CNI.
Além de enfrentar os conhecidos desafios relacionados à baixa produtividade da mão de obra e ao custo Brasil, os empresários industriais retardam investimentos devido às atuais incertezas econômicas, o que afeta diretamente a sua produção. Não por acaso, a pauta exportadora brasileira continua baseada em produtos básicos, cuja participação superou pela primeira vez, no primeiro semestre deste ano, o patamar de 50%.
O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix, destacou que, ao longo dos últimos anos, governo, instituições e associações empresariais têm se esforçado para difundir uma cultura de inovação. No entanto, avalia, a indústria brasileira carrega o peso de uma tradição negativa, fruto de décadas de uma economia fechada, competição mutilada, proteção ao mercado e baixa exigência de qualidade no próprio mercado doméstico.
— A inovação no Brasil ainda não se dá em áreas críticas. Ela ocorre majoritariamente como uma inovação “mais light, incremental”. Isso tem peso na economia, gera emprego, mas não é uma inovação que marca a história e a trajetória das empresas — disse Arbix.
Protecionismo agrava atraso
Mas é possível encontrar ilhas de excelência. A empresa de médio porte Braile Biomédica mantém quase um terço de seus profissionais atuando em pesquisa e reinveste 40% de seu faturamento em inovação. Fabricante de produtos que viabilizam a cirurgia cardíaca, a empresa criou, há cinco anos, a válvula transcateter Inovare, um dispositivo para tratamento pouco invasivo das válvulas cardíacas fabricado com pericárdio bovino.
O atraso tecnológico característico da indústria brasileira, na visão de especialistas, foi agravado por medidas protecionistas adotadas ao longo de décadas. Dados do relatório Global Trade Alert (GTA) mostram que, nos 12 meses encerrados em junho, o Brasil aparece na terceira posição na implementação de medidas de defesa comercial, com 50 medidas, atrás apenas da Rússia (com 83 medidas) e da Índia (62).
Foto de Paulo Fridman na fábrica automotiva da Zona Franca de Manaus
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