Fonte: Folha de S. Paulo |
O Brasil tem muito sol e muito vento, e tecnologias de energia solar e eólica chegam agora ao ponto em que passam a ser economicamente viáveis. Para o país desenvolver esse potencial de eletricidade renovável, porém, é preciso manter o lastro da matriz energética nacional no sistema hidrelétrico.
Esse foi o consenso no debate que reuniu nesta terça (3) três autoridades do país em energia: Jerson Kelman, ex-presidente da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, e Nivalde de Castro, líder do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ. O encontro foi promovido pelo Fórum de Sustentabilidade que aconteceu em São Paulo.
“Temos uma quantidade gigantesca de energia eólica a ser explorada, algo como 400 mil megawatts”, afirmou Castro. “Hoje, tudo aquilo o que temos instalado soma 120 mil megawatts.” Mas esse potencial requer a base de segurança das hidrelétricas, diz.
“A intermitência do vento deve ser compensada pela água que está nos reservatórios. Quando venta muito, fechamos a torneira das hidrelétricas. Quando venta pouco, abrimos”, disse Kelman.
Para o ex-presidente da Aneel, apesar da intermitência, até a energia solar já é competitiva no país – no caso de painéis fotovoltaicos em tetos de casas, que ajuda a abater custos de distribuição. Para a tecnologia vingar, afirma, resta uma mudança na política de preços do sistema, que hoje não diferencia a energia “local” daquela que precisou ser transportada por longas distâncias.
Os debatedores ponderaram se as energias do sol e do vento poderiam substituir a eletricidade das termelétricas, que hoje corresponde a até 25% da geração, mas é indesejada por ser cara e implicar emissão de gases-estufa.
Para isso, seria desejável corrigir o problema de intermitência da própria hidroeletricidade. Chuvas escassas desde 2012, por exemplo, obrigam o governo a manter termelétricas em operação. Parte da solução seria a construção de mais usinas com reservatórios grandes o suficiente para armazenas água por um ano ou mais. Mas há um gargalo aí.
“O maior potencial para grandes reservatórios era no Sudeste e no Centro-Oeste, mas a maioria deles já foi feita”, diz Zimmermann. “O potencial restante é na Amazônia, região de planície. Lá, usinas com regularização plurianual [estoque de energia por mais de um ano] precisam de reservatório com milhares de km².” O risco, diz, é afogar amplas florestas para criar usinas não tão potentes.