O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica cujo diagnóstico final ainda é tardio. Até 2022, ainda não se tinha um método de diagnóstico preciso da doença, como, por exemplo, um exame de sangue que detecta diversas condições de saúde.
Diante de tal imprecisão, órgãos oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não dispõem de dados oficiais sobre essa condição, impossibilitando a formulação de estatísticas brasileiras relativas ao transtorno autista. Mas, com a atuação da nova empresa residente do Parque Tecnológico da UFRJ, a Lifegenetica Bioscience, essa realidade brasileira pode começar a mudar.
A healthtech, uma spin-off da empresa Lifegene Soluções Genéticas de São Paulo, realizará uma técnica inédita no país para a detecção precoce do autismo. Trata-se de um teste que usa como base os microRNAs presentes na saliva como biomarcadores para o diagnóstico do autismo em crianças a partir dos 18 meses de idade.
“Hoje, o autismo é diagnosticado de uma forma muito subjetiva, com questionários aplicados à família de uma forma ampla baseados em perguntas e respostas simples, e na observação do comportamento das crianças. Os laudos, em geral, são fechados em torno dos 6 anos de idade, o que atrasa muito o desenvolvimento cognitivo e motor da criança e, por consequência, atrasa a inserção dessa criança na sociedade de uma forma geral”, destaca a geneticista e coordenadora geral do laboratório da Lifegenetica Bioscience, Dra. Caroline Lage.
Para a geneticista, o diagnóstico preciso do autismo ainda no início da idade escolar traz ganhos significativos em termos de desenvolvimento neurológico e social. “Pensando que uma criança começa a vida escolar com dois, três anos de idade, nada mais justo e promissor do que um teste em que a gente consiga fazer um diagnóstico precoce e essa criança possa começar uma conduta terapêutica adequada, de maneira que ela poderá se inserir no ambiente escolar e na própria família, o que é um grande problema quando a gente fala de autismo”.
Além de ser uma inovação científica, o teste que será realizado pela empresa residente do Parque também tem cunho acadêmico e social. Acadêmico porque o trabalho será feito com a colaboração do Chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFRJ, Pós-doutor em TDAH e uma das maiores referências sobre autismo no Brasil, Dr. Giuseppe Pastura. Com isso, é produzido conhecimento em parceria com a academia, conexão que representa uma das missões do Parque.
Somado a isso, parte dos testes será cedida aos pacientes atendidos por Dr. Pastura no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG, ao lado do Hospital Universitário, localizado na Ilha do Fundão. “Vamos vender os testes para empresas e médicos parceiros, mas também vamos colaborar com o hospital universitário”, ressalta a gerente de produtos da Lifegenetica, Dra. Roberta Campos. Os exames serão realizados a partir de coleta de saliva em crianças ditas com sinais de alerta para autismo.
Com o diagnóstico em mãos, as famílias dessas crianças, muitas vezes em situação de vulnerabilidade social, poderão requisitar todos os seus direitos, uma vez que a pessoa com o transtorno autista é considerada, por lei, um deficiente neurológico permanente.
A previsão é de que as atividades da Lifegenetica Bioscience tenham início em maio de 2022, após conclusão das obras do laboratório localizado no prédio MP – ambiente do Parque voltado a empresas residentes de caráter industrial.
Além do teste inédito para detecção do autismo, a healthtech desenvolverá outros testes genéticos inovadores. “Começaremos em maio com testes de farmacogenética, tanto para medicamentos comuns que tomamos diariamente, como para medicamentos à base de canabinóides. Em meados de julho é que estamos prevendo o início dos testes inéditos para diagnóstico do autismo”, conta o CEO da empresa, Deyvis Arazi.
Saiba como se tornar uma empresa residente no Parque Tecnológico da UFRJ.
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