Fonte: Valor|
Elas possuem faturamentos modestos, e seus funcionários cabem em pequenas salas em universidades. Rodeadas pelas grandes multinacionais do setor de petróleo e gás, algumas empresas iniciantes, mais conhecidas como “start-ups”, brasileiras ainda vivem o desafio da profissionalização, mas decidiram se lançar na edição deste ano da “Rio Oil & Gas”, um dos principais eventos da indústria petrolífera mundial, que ocorrerá na próxima semana, no Rio de Janeiro, atrás de novos contratos e da desejada internacionalização.
Algumas dessas empresas já estão negociando suas tecnologias inovadoras no exterior. É o caso da Oil Finder, que criou uma tecnologia pioneira capaz de apontar remotamente a origem de exsudações (escapes naturais) de óleo no fundo do mar, por meio de satélites e simuladores computacionais. A empresa detecta manchas de óleo na superfície do mar a partir de imagens de satélite e, com simulações da circulação atmosférica e oceânica da região, consegue indicar a trajetória que óleo percorreu desde sua origem.
“Isso permite a uma petroleira começar a exploração já com a certeza de existência de petróleo numa determinada região. É um fator essencial para diminuir o risco exploratório e para reduzir custos com sísmica”, explica o diretor executivo da Oil Finder, Manlio Mano, que desenvolveu a tecnologia em seu doutorado no Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Composta por apenas cinco funcionários diretos e uma rede de consultores da própria universidade, a Oil Finder quer aproveitar a “Rio Oil & Gas” para apresentar seus estudos de validação da tecnologia e ganhar exposição no mercado. Criada em 2010, a empresa começou fornecendo serviços para a Petrobras, mas desde o ano passado já fechou contratos com a Repsol e a Statoil, para mapeamento de áreas leiloadas na 11ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e estreou no mercado internacional com um pequeno levantamento para a Agência Nacional de Hidrocarbonetos (ANH), da Colômbia.
A companhia pretende, nos próximos meses, ir aos Estados Unidos visitar os escritórios de gigantes petrolíferas para negociar novos contratos, e já se prepara para o primeiro leilão de petróleo do México. A Oil Finder também negocia um contrato para mapeamento de toda a costa colombiana e avalia, ainda, o promissor mercado africano.
Assim como a Oil Finder, as start-ups EasySubsea e Ativatec também irão à “Rio Oil & Gas”. Há duas semanas, as duas empresas visitaram uma feira internacional na Noruega para apresentar suas tecnologias a potenciais clientes no Mar do Norte.
Incubada este ano na UFRJ, a Ativatec já presta serviços de inspeção e intervenção robótica para manutenção de equipamentos submarinos para a Petrobras, na Bacia de Campos, e para a Subsea 7. Criada em 2007, a empresa já foi incubada na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mas resolveu voltar à universidade para se redefinir.
“Saímos da incubadora para colocar os produtos no mercado, mas voltamos para redefinir o perfil da empresa. Deixamos de ser uma empresa de desenvolvimento para nos tornar uma empresa de prestação de serviços. Agora vamos atrás de contratos de longo prazo para aumentar nossa equipe”, comenta um dos sócios-proprietários da empresa, Daniel Camerini. Com um faturamento atual de R$ 3 milhões, a Ativatec pretende chegar a R$ 15 milhões em 2017, ao fim de seu período na incubadora.
A Ativatec possui em seu portfólio cerca de 15 tecnologias, sendo quatro soluções patenteadas, entre elas uma ferramenta para detectar trincas e fissuras em equipamentos submarinos. Ela também desenvolve um robô para checar possíveis danos e vazamentos no gasoduto Coari-Manaus, na floresta Amazônica.
A EasySubsea, que oferece serviços e produtos para monitoração, controle e automação de poços, também foi incubada este ano, mas já foi à Inglaterra em busca de um aval para suas tecnologias. Uma das principais soluções da empresa é um sensor de pressão e temperatura do óleo durante a produção, que acabou de ser qualificado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e certificado pela empresa britânica RMSpumptools. Com isso, a tecnologia da start-up brasileira está apta a vender os sensores como parte do sistema da fornecedora inglesa.
Com seis funcionários, a empresa ainda está em fase pré-operacional e busca seus primeiros contratos. A EasySubsea pretende faturar, no mínimo, R$ 3 milhões num horizonte de três anos de incubação.
De acordo com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o Brasil possui cerca de 400 incubadoras, cujas start-ups faturam, por ano, aproximadamente R$ 4 bilhões. A Incubadora da UFRJ possui 26 empresas residentes e 51 já graduadas. Em 2013, as start-ups da universidade faturaram, juntas, R$ 236 milhões. As incubadas empregam cerca de 150 pessoas. Já o quadro das 51 empresas graduadas totaliza cerca de 1 mil funcionários.
Além das start-ups, o Parque Tecnológico da UFRJ abriga sete laboratórios e centros de pesquisa, sete pequenas e médias empresas e 12 grandes fornecedores, entre eles gigantes da área de óleo e gás como S chulumberger, FMC, Baker Hughes, Halliburton, Siemens Chemtech, GE e Tenaris Confab. Em 2013, as empresas do Parque Tecnológico firmaram contratos de R$ 45 milhões para o desenvolvimento de projetos de cooperação com a UFRJ.