
Alunos desenvolveram dispositivos, fabricados em impressora 3D, para facilitar dia a dia de pessoas com deficiência. Foto: divulgação
Hoje é celebrado o Dia Nacional da Acessibilidade — e a boa-nova na data é que há razões para comemorar. A Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) inaugurou, no início de novembro, em parceria com o Grupo Valsa, um novo espaço em sua sede, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio. Após três anos de negociações e obras, com investimento inicial de R$ 60 milhões, foram reunidos, em um mesmo lugar, clínica de especialidades, leitos hospitalares, centro de diagnóstico e um ginásio com 690 metros quadrados e equipamento de ponta.
Em outro endereço da cidade, o campus do Fundão, alunos do projeto de extensão e pesquisa de Terapia Ocupacional, Design Industrial e Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) criam dispositivos que vêm revolucionando o dia a dia dos pacientes atendidos no serviço de Terapia Ocupacional do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. As duas iniciativas são bem-vindas para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
Alta tecnologia
A mais nova área da sede da ABBR destina-se ao atendimento de pacientes particulares e de planos de saúde. Para montar o centro de reabilitação, o Grupo Valsa buscou equipamentos de última geração, como uma esteira antigravitacional, desenvolvida com tecnologia da NASA, que permite reduzir em até 80% o peso corporal durante os treinos, protegendo as articulações; e o Motomed, equipamento de terapia de movimento motorizado que oferece treinamento ativo e passivo.
— Procuramos trazer para cá tecnologia de ponta para que os profissionais possam exercer sua expertise sem limitação. A ABBR conta com um know-how de mais de 70 anos — salienta Alfredo Cardoso, CEO do grupo.
Inovação em 3D
No projeto da UFRJ, alunos desenvolveram dispositivos, fabricados em impressora 3D, que facilitam a vida de pessoas com deficiência na prática de atividades cotidianas como comer, se maquiar ou abrir uma latinha. As peças já criadas incluem adaptadores para segurar talheres, extensor para encaixe de lápis de olho e até passador de fio dental, projetados individualmente, levando em conta as especificidades de cada paciente.
— Os objetos criados pela equipe multidisciplinar são simples, mas engenhosos, e ajudam a devolver a dignidade e a autonomia para muitos — explica a responsável pelo projeto, Carolina Alonso, professora adjunta do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da UFRJ.
Diagnosticada com miosite necrosante, doença que afeta os músculos, a estudante de pedagogia Kathelyn Lorrany Cardoso, de 21 anos, queria voltar a poder fazer aquele delineado perfeito. Uma aluna do projeto criou então o “puxolho”: a ferramenta, que virou o trabalho de conclusão de curso da designer Karla Moreno, permitiu que Kathelyn voltasse, ela mesma, a conseguir pintar os olhos, como costuma fazer sozinha.
— Conseguimos entender as necessidades desse público e criamos soluções baratas para auxiliar no manejo de itens que usamos cotidianamente. No Brasil, embora a legislação garanta o acesso a equipamentos da Tecnologia Assistiva, o desenvolvimento e a distribuição dos chamados dispositivos para Atividades de Vida Diária (AVDs) não estão acessíveis às pessoas com deficiência — explica Carolina Alonso, antes de lembrar o caso de um paciente de 65 anos, com sequelas graves deixadas pela hanseníase, que faz acompanhamento médico no HUCFF: — O desejo dele era beber uma cerveja na latinha. Simples assim. E foi uma alegria imensa vê-lo conseguindo fazer isso com o dispositivo desenvolvido.
Censo inclusão
O impacto dessas soluções é ainda mais relevante quando se considera que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 8,9% da população do Brasil têm alguma deficiência, e o acesso a serviços de reabilitação e tecnologias assistivas é limitado. Com foco na criação de políticas públicas para pessoas com deficiência, o governo do Estado do Rio criou, na última terça-feira, o Censo Inclusão. A pesquisa será feita de forma on-line. E um comitê interdisciplinar ligado à Subsecretaria de Políticas Inclusivas, da Secretaria da Casa Civil, fará o monitoramento. A partir dos dados coletados, será traçado um perfil que irá permitir o mapeamento das necessidades desse público.