Fonte: O Globo |
Caso seja necessário o racionamento de energia no Brasil por 12 meses, as perdas das empresas geradoras podem variar de R$ 10,1 bilhões a R$ 28,7 bilhões, e resultar em aumento de tarifa entre 2,5% e 10,2%, segundo um relatório da agência de classificação de risco de crédito Moody’s divulgado nesta quinta-feira. As projeções feitas pelos analistas da Moody’s consideram reduções compulsórias no consumo de 5% e 20%, respectivamente.
— O racionamento de energia não teria impacto negativo nas empresas de geração hidrelétrica somente pelas vendas menores. As companhias seriam também forçadas a comprar energia mais cara no mercado spot, para compensar a diferença entre sua geração atual e a energia física designada a cada um pelo regulador — afirmou o analista sênior e vice-presidente da empresa Alexandre Leite, em comunicado.
O documento aponta que, com a falta de chuvas e os baixos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, que respondem por 64% da geração de energia no país, o racionamento de energia está se tornando uma medida “progressivamente mais provável”. O governo federal indica que o risco de racionamento é baixo, de 2% a 3%, mas consultores privados sugerem até 20%.
Assim, a Moody’s formulou dois cenários, um com racionamento e outro sem. No cenário com racionamento, foram feitas projeções, envolvendo a demanda e a produção das empresas, bem como sua dependência ao mercado de “spot”, para redução compulsória de 5%, 10% e 20% da energia, por sete meses e por 12 meses.
Na hipótese mais branda de racionamento – de 5% da energia por sete meses –, as empresas geradoras teriam perdas de R$ 7,5 bilhões e o aumento das tarifas para compensar as perdas das distribuidoras, de 1,5%. Se a redução no consumo por este período for de 20%, as geradoras perderiam R$ 18,3 bilhões e as geradoras teriam direito a reajuste de 5,9%.
— Mesmo que não haja racionamento, as companhias de geração hidrelétrica poderiam potencialmente sofrer [consequências] dependendo das estruturas de contrato e a necessidade de acessar o mercado spot se sua geração efetiva for menor que a sua energia física alocada. Além disso, a qualidade do crédito das companhias de distribuição de energia poderia ser enfraquecida se o governo federal falhar em cobrir adequadamente os custos relativos à compra de energia térmica e a exposição involuntária ao mercado spot — explicou o também vice-presidente e analista sênior da Moody’s José Soares, em comunicado.
A agência de classificação de risco avalia que o governo federal vai continuar a transferir recursos para as empresas por meio da Conta de Desenvolvimento Energético (fundo do setor) – para o qual já foi anunciado aporte de R$ 4 bilhões do Tesouro por causa da crise – ou outros mecanismos, como o empréstimo de R$ 11,2 bilhões à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que está sendo negociado com um grupo de bancos.
Os analistas da Moody’s acreditam que os custos das distribuidoras com a energia térmica serão maiores que em 2013, podendo chegar a R$ 30 bilhões. Desde fevereiro, segundo o documento, as empresas têm gastado R$ 2,1 bilhões por mês com a aquisição desta energia complementar no mercado spot. “Como isso não é sustentável no longo prazo, nós acreditamos que algum tipo de arranjo será feito entre o governo e os participantes da indústria de eletricidade para evitar disrupções adicionais”.