Fonte: Exame |
A lógica é antiga e parece disseminada na opinião pública do país: o agronegócio desmata, usa agrotóxicos que fazem mal à saúde e, em sua sede econômica, quer maximizar cada uma dessas caraterísticas ano a ano para aumentar a produção. Para os participantes do primeiro EXAME Fórum Centro-Oeste, no entanto, trata-se de desinformação que não condiz com a realidade do setor. Parte da culpa é causada porque as pessoas hoje vivem “muito distantes da produção de alimento”, afirmou o biólogo Fernando Reinach, no evento que ocorreu nesta terça-feira em Goiânia. Ele se refere ao fato de que grupos ambientalistas se opõem a medidas como os alimentos transgênicos e defendem alimentos orgânicos.
Mas é na invenção de novas maneiras de aumentar a produtividade que a produção no campo consegue acompanhar ou superar o crescimento da demanda por comida, sem que sejam necessárias novas áreas cultiváveis. “A tecnologia é a melhor amiga do ambientalista. Para conciliar preservação dos ecossistemas naturais e produtividade, ela a única solução”, afirma Reinach. É conseguindo fazer mais no mesmo espaço que o agronegócio trabalha com a expectativa de chegar a uma safra de 248 milhões de toneladas de grãos em 2024, contra os 191 milhões previstos pelo Ministério da Agricultura este ano.
Para isso, a área cultivável deve aumentar no máximo 17% na próxima década. “O que temos visto é que a expansão será em áreas de pastagens. Há hoje uma pressão grande sobre a utilização de novas áreas, que faz com que a produtividade é que tenha que aumentar”, afirma o coordenador geral de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, Jose Garcia Gasques.
Com a produtividade na produção de soja crescendo a elevados 6% ao ano, o setor vê a expansão da mesma forma até mesmo pela lógica financeira. “O aumento da área é mais caro que aumentar a produtividade”, afirma Aurélio Pavinato, diretor presidente da SLC agrícola, uma das gigantes do setor. Segundo ele, há brechas para que a distância da produtividade nacional em relação ao agronegócio norte-americano e argentino aumente ainda mais.
Para a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), não faltam bons exemplos de que produtores e ambientalistas podem coexistir em paz. Na rica Lucas do Rio Verde (MT) – uma das cidades mais desenvolvidas do país –, por exemplo, todos os fazendeiros recuperaram as Áreas de Preservação Ambiental (APP) em suas propriedades. “Temos 60% do território brasileiro completamente intacto (determinado por diversos tipos de legislação), 12% são de terras indígenas e outros 12% são de parques e não serão tocados. A legislação determina que 85% do território seja preservado”, afirma Carlos Favaro, presidente da entidade.
No estado de Goiás – cuja produtividade no agronegócio se consolida entre as que mais crescem no país – meio ambiente e agricultura não se veem como inimigos, segundo o governo estadual. “Temos um diálogo estabelecido, sem polarização. Existe um diálogo para uma frente de crescimento no estado”, afirma a secretária de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos de Goiás, Jacqueline Vieira da Silva.
Olhando para o exemplo de Goiás e as áreas que o novo Código Florestal manda preservar, aliás, o presidente e fundador da Aliança da Terra – uma ONG de produtores interessados em “produzir certo” – acredita que o Brasil deveria ter suporte financeiro da comunidade internacional. “O Brasil teria que receber para isso ficar viável financeiramente. Nos Estados unidos, meu tio possuía 15% de sua propriedade com mata original. Hoje está em 0,09%. Quando houver 11 bilhões de pessoas no mundo, o ser humano vai querer expandir (as áreas)”, alerta John Carter, indicando que o embate envolvendo o agronegócio não cessará tão cedo. Norte-americano que desde 1996 vive no Mato Grosso, ele acredita, porém, que o Brasil segue na direção certa.
Para o biólogo Fernando Reinach, vale lembrar que os produtores não querem destruir o meio ambiente e têm interesse que a natureza funcione bem. “Para plantar é preciso água e sol. Nas regiões onde a agricultura surgiu inicialmente, ela tornou tudo insustentável ao alterar o ciclo das águas”, lembrou. Já abrir mão de produzir alimentos em escala com a intenção de preservar 100% dos ecossistemas seria, para ele, “voltar a ser coletor” da natureza, assim como na época em que o ser humano perdia 9 horas do seu dia apenas para garantir a alimentação.